Franciscanismo

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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O Tau Franciscano


Era como se sua missão consistisse em traçar o Tau na fronte das pessoas que gemem e choram” (Boaventura)

A Fraternidade universal franciscana espalhada no mundo inteiro, tem no Tau a concentração de sua espiritualidade. Símbolo da vida, da cor-dialidade, da com-fraternização, da sensibilidade, da leveza, da energia central que anima o espírito e da conversão permanente ao Cristo. O Tau prefigura a cruz quando ocupa o último lugar no alfabeto hebraico, assemelhando-se à forma de cruz.
O alfabeto grego o coloca no décimo nono lugar sugerindo um “T” maiúsculo. É que na antiguidade dava-se muita atenção à correlação entre a letra e o número e vice-versa, derivando daí a teoria da “gematria” que dava as palavras bíblicas certo valor numérico. O Tau representava, por exemplo, o número trezentos por sua derivação do três e do cem e múltiplo de dez dando o sentido de completude. O texto de Ezequiel (9,1-11), tornou-se um clássico na evolução histórica do Tau onde por duas vezes é mencionado o sinal da cruz ou “T” do alfabeto hebraico que ali preserva do mal o povo justo. “Percorra a cidade de Jerusalém e marque com uma cruz (T) a testa dos indivíduos que estiverem gemendo por causa das abominações que se fizer no meio dela...” (v. 4). “Não toqueis nenhum homem sobre quem estiver o sinal” (v.6). Ainda no AT, dentro das prescrições de Moisés no Livro do Êxodo (l2, 21-23), os israelitas são identificados e poupados do anjo exterminador por mediação de um “sinal” impresso nos batentes das portas da casa. No livro do Apocalipse (7, 2-3) de forma análoga o exilado de Patmos registra o “selo de Deus” na fronte de seus servos. “Não façais mal à terra nem ao mar nem às árvores até que tenhamos o selo de nosso Deus na fronte de seus servos” há aí, segundo alguns comentaristas, uma forte referência ao Tau, como o “selo de Deus”, um “sinal” de salvação aos que experimentam a conversão e se tornam servos de Deus.
Geralmente esculpido em madeira tosca e suspenso por um cordão de couro, o Tau consagrou-se como símbolo da mística e testemunho de vida franciscana.
Fontes históricas dão conta que São Francisco aproximou-se inicialmente do Tau como sinal que identificava as congregações de apostolado caritativo-hospitaleiro, como por exemplo, a ordem hospitaleira de Santo Antonio Eremita, ou Antoninos, bastante conhecida no seu tempo que cuidava da assistência aos hansenianos. Foi também o Tau símbolo que inspirou São Francisco no seu apostolado entre os forasteiros e peregrinos que se dirigiam a Santiago de Compostela, ele mesmo e seus frades se definiam como peregrinos.
Segundo Tomás de Celano, S. Francisco dava início as suas atividades diárias com o Tau e com ele assinava seus inúmeros “bilhetes” como também com o mesmo decorava as paredes da cela. Certa vez transportando um enfermo que agonizava, tocou-lhe a fronte com seu bastão ornamentado com o sinal do Tau , devolvendo-lhe a saúde.
Outra, e mais importante familiaridade de São Francisco com o Tau, é a aliança que o santo estabelece com a pobreza, escolhendo-a voluntariamente como uma acese de despojamento e identificação com os pobres, não somente entre os pobres mas como pobre, pobreza como disponibilidade interior, como uma maneira evangélica de ser, individuada, livre, comprometida-descomprometida.
O Tau ao lado de tantos outros sinais iconográficos cristãos, vai marcar também sua presença nas inscrições das catacumbas junto aos nomes dos mártires, assinalando sua eloqüência evangélica de resistência ao poder dos mais fortes e ao mesmo tempo excluindo qualquer possibilidade do “sinal” Tau ser reduzido a mero adorno decorativo dissociado do testemunho de vida e das virtudes essenciais fundamentadas na conversão e pobreza de quem ousa viver o Cristo crucificado e a riqueza e dimensão do “pax et bonum” da
espiritualidade franciscana.


Dom Celso Franco de Oliveira

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