Franciscanismo

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quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Nos Passos do Profeta

Servir em Silêncio
Frei Yuri, CJ, OASF

É bonito ver alguém que se sinta feliz servindo a Deus. Dá vontade de sorrir mais e nasce dentro da gente uma felicidade diferente; como se um Mundo melhor e mais humano já estivesse sendo formado naquele momento. Não é preciso que a pessoa fale. Algumas atitudes são fundamentais para se reconhecer um cristão engajado, um irmão verdadeiramente missionário.
Normalmente, quem gosta de servir a Deus nos irmãos é alguém sincero! Ser sincero é ser cristalino, deixando passar carinho pelos nossos olhos. O sincero não julga os irmãos e nem permite que sejam feitos julgamentos injustos e imprudentes a respeito de qualquer pessoa.
Gosto de ver também os honestos! Sorriem muito e transmitem simplicidade e singeleza em seus atos. São amigos fiéis e suas palavras produzem concórdia e paz.
Acima de tudo, é bonito reconhecer um servo de Deus mais pelas suas obras do que por suas palavras. Falar muitas vezes é fácil, principalmente quando não temos que agir daquela maneira que pregamos na frente dos outros.
É bom e agradável a Deus sermos servos fiéis e honestos, capazes de servi-lo em silêncio, deixando que as obras apareçam sobre nós. Não é fácil agir assim! Agir assim é ser santo. O serviço do Reino exige muita vontade de nossa parte e muita abertura à Graça de Deus.
Hoje, falar é quase uma lei e, por vezes, é melhor falar do que agir para ser aceito. A cultura manda falar, seja por e-mail, por celular, por fax, por blog, por orkut; falar não é o problema. O problema, caros irmãos, é falar com propriedade e com qualidade a coisa certa. Há um tempo, ninguém tinha celular e ninguém sentia falta dessa comunicação constante. O mundo mudou. Agora é bom sempre ter um celular por perto e se possivel dois e mais um pager e um notebook com internet banda larga! Não acho que seja um problema as pessoas quererem se comunicar, mas acho que a comunicação precisa ter uma qualidade melhor. É preciso saber falar! Muitas pessoas brigam por msn ou terminam relacionamentos por e-mail. Não posso negar que muitos casos de amor se iniciam também pelo bate-papo da internet, mas, acima de tudo, a comunicação é algo sério e que precisa ser tido como tal.
Não considero a tecnologia algo ruim, muito pelo contrário. Entretanto, acredito que muita gente se distancia da humanidade, escondendo-se atrás do celular ou da internet. É difícil reconhecer os "honestos" ou os "sinceros" quando a comunicação não é presencial e imediata.O missionário precisa saber se comunicar em todos os meios para alcançar o maior número de pessoas, porém ele precisa viver o Evangelho de forma plena, mais com ações do que com belas
Quem sabe servir, serve também em silêncio, sem precisar alardar toda a vizinhança. quem sabe servir, usa a facilidade de comunicação para se aproximar dos outros e não para se esconder. Servir em silêncio é bem mais do que agir com retidão; é também saber a hora de falar, como falar e pra quem falar.
Enfim, o servo fala, mesmo que esteja calado! As palavras saem de seus olhos e voam pelo ar, pela internet e pelo celular. As palavras do servo verdadeiro saem do coração e vão até outros corações. Não podemos ter medo de falar a todos a Boa Nova, mas precisamos ser presença real também. Se não fizermos assim, não mais se falará em servos "honestos" ou "sinceros" como aqueles que falamos acima, mas falaremos apenas de servos de "bela voz" ou de "palavras doces".
Desejo sucesso a todos!
Pax et bonum!
http://sites.google.com/site/profetacomunhao/artigos-pessoais

sábado, 24 de janeiro de 2009

Franciscano

Sou velho, cristão e franciscano. Que significa para mim ser franciscano? Ser franciscano é encontrar através da figura de São Francisco a porta pela qual se entra e se descobre o único Cristo verdadeiro, aquele que foi um artesão e camponês mediterrâneo, tão anônimo, que as crônicas da época, seja de Jerusalém, de Atenas e de Roma sequer notificaram seu nascimento e sua morte. Era um pobre, considerado por seus familiares um louco (cf. Mc 3,21), que saiu pelos caminhos pedregosos da Palestina a pregar um sonho, o do Reino de Deus que é uma criação reconciliada com Deus, descoberto como Paizinho, na justiça, no amor, no cuidado de uns para com os outros e no perdão e que começa pelos pobres. Crucificado, ressuscitou, fazendo uma revolução dentro da evolução, mostrando que o fim da criação é o bom. Ressurreição é também uma insurreição contra um tipo de justiça que condena os inocentes.

Mas o que ensinou Francisco é encontrar Deus na criação. Ele, com grande humildade, se colocou ao pé de todos os seres. Confraternizou-se com as obscuras forças da Mãe Terra e com o brilho benfazejo do Sol. Fez-se irmão das flores do campo, dos passarinhos, do vento, da chuva, das estrelas, do Sol e da Lua e até da morte. Por isso tratava a todos os seres com finura e cortesia. Seu mundo é cheio de magia, de encantamento e de música.
De São Francisco aprendi que não basta ser cristão. Temos que ser bons, humanos, finos, sensíveis, amorosos e abraçar ternamente a cada criatura até o voraz irmão lobo de Gubbio. Então não vivemos num vale de lágrimas, mas numa montanha de bem-aventuranças. Como nos recorda Gaston Bachelard, "não aparecemos como filhos e filhas da necessidade, mas como filhos e filhas da alegria".
Leonardo Boff (parte do discurso de seus 70 anos de idade)

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Uma Reflexão

OLHOS ATENTOS

Recentemente tive uma experiência significativa no que tange ao carisma que vivo e forma de tê-lo me preenchendo cada vez mais e plenamente: numa Kombi de transporte alternativo aqui do Rio de Janeiro, no aperto e calor da estação mais amada pelos cariocas, me dirigia de Pedra de Guaratiba para Campo Grande. No banco da frente do salão do citado veículo, encontrava-se um homem mulato carregando em seu colo, com todo o carinho e alegria de pai, uma bela menininha de no máximo uns sete meses de vida. Aquela criança, com os olhos arregalados, observava-nos com toda a sinceridade e fragilidade infantis. Uma senhora, sentada desconfortavelmente ao meu lado, ao observar aqueles olhinhos atentos a tudo, num misto de carinho e desencanto disse: Olhem que olhos arregalados! É lindo o olhar de uma criança. Pena que, com o tempo, os nossos olhos vão perdendo o brilho e a sinceridade. Quando a gente fica adulto, tudo vai ficando mais frio, sem brilho e esperança. Todos, escutamos aquela análise triste do comportamento humano, feita por aquela mulher vivida e marcada pela idade e retomamos o nosso silêncio.
Aquele acontecimento aparentemente corriqueiro, me fez pensar profundamente sobre o sentido da fé e do carisma franciscano em tempos de individualismo exacerbado e correria desmedida. Comecei a perceber que a grande tarefa de nós franciscanos é justamente não permitir que os olhos alheios percam o brilho inicial e o calor dos que tem fé. Ser franciscano, não é se digladiar com convicções divergentes, nem tentar impor a bandeira do evangelho sobre terras devastadas por argumentos irrefutáveis. Não! Não é esse o nosso chamado. Somos direcionados aos olhos do outro, para neles reacender a chama da esperança e a alegria de viver. Queremos levar Jesus aos corações, mas não com verdades impostas. Queremos impregnar o mundo e as pessoas com a luz que brilha dos olhos de Cristo, que faz do olhar humano, um olhar atento, movendo mãos ao serviço e gerando lábios que sorriem esperançosos. Queremos ser a luz do mundo, mas o nosso viés não é o da razão absoluta que de absoluta nada tem. Queremos ser a luz dos olhos para o mundo, pois nos olhos do outro encontramos Jesus solicitando o nosso acolhimento e atenção. Queremos celebrar a Santa Eucaristia, não como um rito rotineiro e sem encanto. Queremos ver os responsos do povo. Não estranhe, pois é isso mesmo! Não mais nos contentamos em ouvir tais responsos e sim queremos vê-los, pois a voz que fala, muitas vezes mascara o brilho que desnuda a alma. Queremos, no “abraço da paz”, abraçar e aquecer o coração que se colocar diante de nós, fitando os seus olhos e sabendo o seu nome.
Minha bela e inesquecível criança, que vi naquele dia quente do Rio de janeiro, te prometo que não ficarei indiferente aos teus olhos e tudo farei para que eles não percam o seu brilho inicial. O brilho daqueles que são e sabem que são filhos muito amados de Deus.

Frei Sidney, CJ, OASF

Paz e Bem!

Rio, em 22 de janeiro de 2009

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Pensando o Nosso Carisma

Bênção Franciscana
Que Deus te abençoe com um desconforto inquietante sobre as respostas fáceis, as meias verdades e as relações superficiais, para que possas buscar a verdade corajosa e viver profundamente em teu coração. Que Deus te abençoe com sagrada raiva à injustiça, à opressão e à exploração de pessoas para que possas trabalhar incansavelmente pela justiça, liberdade e paz entre todas as pessoas. Que Deus te abençoe com o dom de lágrimas para derramá-las com aqueles que sofrem de dor, rejeição, fome ou a perda de tudo aquilo que eles amam, para que possas estender a mão para lhes dar conforto e transformar a sua dor em alegria.Que Deus te abençoe com a tolice suficiente para que creias que realmente podes fazer diferença neste mundo, para que possas com a graça de Deus, fazer aquilo que os demais insistem ser impossível. E que a benção de Deus, Suprema Majestade e nosso Criador, Jesus Cristo a Palavra encarnada que é o nosso irmão e Redentor, e o Espírito Santo, o nosso Advogado e Guia, seja contigo e permaneça contigo e com todos, hoje e para sempre. Amém.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

A JUASF já tem um Blog

Amados e amadas irmãs em Cristo,

Paz e bem!

Já está funcionando o blog da JUASF!

http://juasf.blogspot.com/

Ele visa ser um espaço de comunicação e formação de nossos jovens.

Em nossa Missão nasceu neste domingo a Fraternidade Frei Leão, que é o núcleo da JUASF aqui no Rio de Janeiro. Construam e animem novas fraternidades! Vamos levar aos nossos jovens o carisma do Pobrezinho de Assis!

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Levantando a Voz

Frei Neylor J. Tonin
As pompas de satanás
QUERIDOS AMIGOS: Todos nós renunciamos, no dia do nosso batismo, às “pompas de satanás”. Quando o padre, com gravidade, perguntou aos presentes: “Renunciais a satanás, às suas pompas e às suas obras?”, todos responderam, na primeira pessoa do singular, por si e pela pessoa a ser batizada: “Renuncio!” Foi um dia de muita festa e alegria. O batizando, normalmente, está todo de branco. O padrinho, com uma vela acesa na mão. A madrinha, orgulhosamente, é só felicidade. E os pais não escondem uma grande alegria por lindo pimpolho ou filhinho. Assim foi o dia do teu e do nosso batismo. Por que vivemos, agora, esquecidos deste juramento, como se apenas fosse coisa de um passado remoto e sem validade atual?
QUERIDO AMIGO: Permite-me espanar um pouco tuas lembranças de homem de fé. Certamente, não desconheces que satanás é, desde o Gênesis, o grande adversário de Deus e da felicidade humana. Deus criou o homem e a mulher para a felicidade, colocando-os num paraíso. Satanás tudo fez para torná-los companheiros de sua infelicidade. Eles, então, perderam a intimidade com Deus e foram expulsos de sua companhia. Mais tarde, muito tempo mais tarde, Jesus veio para recriar o paraíso perdido e derrotar a Satanás (1Jo 3,9). Expulsava os demônios, dizem secamente os Evangelhos, para libertar as pessoas da dependência do diabo, que é chamado de “espírito impuro” (Mc 1,23) e de “espírito maligno” (Lc 7,21).
Basicamente, o diabo quer, como adversário de Deus, tornar o homem adorador de tudo que não é Deus. Para tanto, empresta ao mal uma auréola de esplendor, um fascínio irresistível, um brilho deslumbrante, pompas e circunstâncias. As pompas de satanás são uma ardilosa e brilhante enganação.
Não é preciso alertar-te de que, a exemplo de Jesus, deve a pessoa armar-se contra ele e combatê-lo sem tréguas, porque ele, no dizer de São Pedro, “ronda, qual leão, rugindo e buscando a quem devorar” (1Pd 5,8-9). Por outro lado, não é preciso ter medo do diabo, mas rezar e crer com o Salmista: “Deus liberta seus ungidos da rede do caçador, cobrindo-os com suas plumas e abrigando-os debaixo de suas asas” (Sl 91,3-4).
Antes de esclarecer-te em que consistem as pompas de satanás, importa refletir um pouco sobre a natureza do demônio. Ele é, essencialmente, um refinadíssimo e envolvente sedutor. Não se apresenta como impuro e maligno, mas traveste-se de luz e cobre-se de brilho. Tem a inteligência dos grandes espertalhões. Faz-se de inocente, mas é assassino desde o começo (Jo 8,44). Na primeira página da Bíblia, abordou Adão e Eva no paraíso, com dissimulado interesse e doces palavras, palavras convincentes, despretensiosas, positivas, recorrendo a dúvidas subtis. “É verdade” - perguntou-lhes - “que Deus vos disse ‘não comais de nenhuma das árvores do jardim’ (Gn 3,1)”? Quando a mulher esclareceu que podiam comer de todos os frutos, menos do fruto da árvore que estava no meio do jardim, porque senão morreriam, ele se fez de mais sabido e categórico, rindo-se da ingenuidade de nossos primeiros pais: “De modo algum morrereis”, garantiu. Deus sabe: “no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão e sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal” (vv. 4-5). Sedutora mentira, falsa promessa, esperteza diabólica! Mentiu, mostrando-se chocado, usando de conhecimentos mentirosos para enganar Adão e Eva, que caíram em suas malhas. Até hoje a humanidade está pagando pelas conseqüências de tão sedutora mentira, deste diabólico engodo.
Antes de continuar, escuta, ó Homem, o que ensina o Catecismo da Igreja Católica (n. 395), sobre o demônio: “O poder de satanás não é infinito. Ele não passa de uma criatura, poderosa por ser puro espírito, mas sempre criatura: não é capaz de impedir a edificação do Reino de Deus. (...) A permissão divina para a atividade diabólica é um grande mistério, mas ‘nós sabemos que Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam’ (Rm 8,28)”.
Além do mais, ensina a sã doutrina, a pessoa “permanece sempre livre para consentir ou resistir às moções diabólicas” (Santo Tomás, Suma Teológica, q. 111, a. 2). Somente Deus pode agir diretamente sobre o homem. O sacrário da alma humana pertence a Deus, não ao diabo. O diabo é apenas um atiçador, não o emissor de maus pensamentos. Para quem aprecia o latim: “Diabolus est incensor, non inmissor malarum cogitationum”. (Alexius Benigar, Theologia Spiritualis, n. 624). Ele, o diabo, só coloca lenha na fogueira, mas não é o dono nem da lenha nem da fogueira, segundo a espiritualidade cristã.
QUERIDOA AMIGOS: Feitos estes esclarecimentos, ressaltemos que satanás é um habilidíssimo e tremendo sedutor! Reveste-se de luzes e pompas para aliciar suas vítimas. Não as ataca frontalmente. Sussurra-lhes cuidadosamente aos ouvidos. Não as arrasta, com violência, para o caminho do inferno. Engana-as com promessas mirabolantes de riquezas e falsa felicidade. Os que se deixam tentar por sua cantilena pensam conquistar o céu, quando, na verdade, acabam se precipitando no abismo do desespero e das insoluções de seus problemas. Assim é o diabo, “mentiroso e pai da mentira” (Jo 8,44), que tenta as pessoas com suas pompas. Mas, enfim, que são, o que a Espiritualidade entende por “pompas de satanás”?
São os brilhos tentadores que fascinam, mas pouco acrescentam, são os exageros com desmesurado custo, mas inócuas respostas de satisfação: pervertem, matando a alegria de viver; são desperdícios egoístas, sem retorno espiritual, que tiram a paz; são ostentações inúteis e desnecessárias que nada acrescentam à verdadeira felicidade humana. Em todas estas tentações, há traços de idolatria, que consiste em dar um valor absoluto a coisas relativas. São bezerros de ouro que têm boca, mas não falam, têm ouvidos, mas não escutam, têm coração, mas não amam. Tentada por satanás, a pessoa coloca sua confiança e faz depender sua felicidade de bens importantes, mas insuficientes, de vaidades mundanas, de prestígio social, de aplausos passageiros, de brilhos enganosos, de luzes que lhe dão destaque, sem lhe garantirem o palco (o céu) para sempre.
Uma das grandes e tentadoras pompas de satanás chama-se dinheiro, que a Espiritualidade chegou a chamar de “esterco de Satanás”. Por dinheiro, para terem sempre mais dinheiro, as pessoas perdem a paz, podem infelicitar as relações familiares, corrompem os vários relacionamentos, agridem a justiça, esquecem-se e afastam-se do caminho do reino de Deus e, pelo vil metal, acabam perdendo o paraíso final. A que levam as pompas de satanás? Levam à tríplice concupiscência, a saber, a da carne (o amor desordenado dos sentidos), a dos olhos (o amor desordenado pelos bens da terra) e a do espírito (a soberba da vida). Santo Agostinho, em Confissões (X,31-39), se refere à gula, à sedução dos olhos, aos prazeres dos ouvidos, ao orgulho, à tentação do louvor, à vanglória e ao amor próprio, todas formas por onde se infiltram, tentadoramente, as pompas de satanás, sempre com o velho realejo: “Sereis como deuses”. Mas exemplos são melhores do que explicações. Segundo noticiaram jornais da época, em que o Presidente Marcos foi apeado do poder nas Filipinas, sua mulher Imelda possuía uma coleção de 2 mil pares de sapatos. Não apenas 30, 50 ou 100, o que já seria um acinte inaceitável, um exagero absurdo! Eram 2 mil! Quantos pares de sapatos precisaria ter a mulher de um Presidente para não destoar em suas funções representativas? Uma primeira resposta seria: 2 mil, sem dúvida, não! Mulher nenhuma é centopéia. A dignidade e a felicidade humanas não podem depender de uma coleção desmesurada de sapatos e de roupas. Convenhamos, o que passa de uma certa quota razoável é exagero, é desperdício, são...”pompas de satanás”. Outro exemplo de exagero e intemperança diabólica, se verifica como carência de fundo psicológico. Quem, ambicionando gulosamente por aplausos e reconhecimento, a todo custo, deixando de aceitar os limites impostos pela convivência humana, na qual somos simpáticos para um sem número de pessoas, mas não amados por outras tantas, estaria pagando tributo às tentadoras pompas de satanás. Tais pessoas se caracterizariam por uma obesa intemperança afetiva, que revelaria pouca saúde espiritual e acentuada dependência anti evangélica. Escravas das pompas de satanás seriam também as pessoas que ultrapassassem as aspirações normais e possíveis de seu coração, alimentando desejos sedutores e fáceis de amores proibidos. Com uma musculatura espiritual flácida, tais pessoas abjurariam ao caminho estreito do Evangelho, optando pelas pompas luzidias, mas enganosas, de satanás. O nono mandamento da Lei de Deus denuncia esta luxúria afetiva, quando prega a fidelidade e prescreve não desejar a mulher do próximo. Há homens que nunca se acham satisfeitos dentro dos limites de seu estado e vida, desejando, se possível fosse, todas as mulheres do mundo. Querem mais, sempre mais, como se o número fosse capaz de sustentar a intensidade do amor, que não experimentam.
As pompas de satanás não estão no ouro que exalta, nas igrejas, a santidade de Deus, mas na ambição desmesurada e sem rebuços de ministros que exploram a fé pura e a ignorância singela dos fiéis. Longe de serem semeadores da Palavra de Deus, eles são operadores de contas bancárias gordas e pomposas. Não se lembram do veredicto de Paulo: “A raiz de todos os males é a cobiça do dinheiro” (1Tm 6,10).
As pompas de satanás produzem, em certas pessoas, uma não conformação com a vontade de Deus, que é desafiadora, mas nunca injusta e insuportável. Comportam-se como crianças mimadas, choramingando penosamente e lamentando-se, teatralmente, de doenças do corpo e adversidades do coração. Falta-lhes aprumo religioso e nobreza espiritual. No fundo, são pesadas e dependentes, imaturas e lamentáveis. Para elas, o Salmo 23 - “O Senhor é meu pastor, nada me pode faltar” - não passa de palavras, de palavras vazias que são ditas com os lábios, mas não afundam suas raízes na fé do espírito.
QUERIDOS AMIGOS: Não se deixem seduzir por encantos que não duram e pela beleza que murcha e fenece! Não pretendam ser mais do que são, nem tentem assenhorear-te da Árvore do Bem e do Mal, posando de deus! Lembrem-se, todos somos criaturas finitas, pequenas, dependentes, destinadas à morte. Não existimos para nós mesmos, mas para Deus que nos criou e para os outros, nossos irmãos. Não somos senhores da vida, mas obra de Deus, que nos fez e soprou em nós seu santo espírito. Só Ele é onipotente, eterno e merecedor de adoração e reverência. Não fomos criados para mandar e ser soberano, mas para servir e ser irmão. Não estamos no mundo para usar 2 mil pares de sapatos, mas para empenhar nossos talentos em honra de teu Criador e a bem de nossos próximo.
QUERIDO AMIGO: Se não te portares como filho de Deus, morrerás como vítima do demônio, perderás o paraíso como um condenado e satanás terá vencido e se alegrará com teu triste fim. Não te deixes aliciar por suas pompas. A felicidade é simples, não é pomposa. Anda no caminho do bem, contenta-te com poucos pares de sapatos, vive parcamente e reconhece que há um só Deus, que é senhor da vida e do paraíso prometido aos que renunciam ao falso céu de seu inimigo. Em ti, em tua vida, Deus quer, com seu projeto e suas graças, ser bem sucedido. Satanás, com suas pompas e obras, certamente, não! Lembra-te disso!

Gotas de Fé e Devoção

A Transbordante Alegria de São Francisco de Assis
Por Frei João Mannes, OFM
Os antigos biógrafos e hagiógrafos de São Francisco de Assis atestam que a sua vida caracterizava-se por uma manifestação de intensa alegria. Segundo Tomás de Celano, a "costumeira alegria" (1Cel 2,5) de Francisco era tão intensa que, para extravasá-la, "de vez em quando, colhia do chão um pedaço de pau e, colocando-o sobre o braço esquerdo, mantinha um pequeno arco curvado por um fio na mão direita, puxando-o sobre o pedaço de pau como sobre um violino e, apresentando para isto movimentos próprios, cantava em francês" (2Cel 90,127). Assim, através de muitos outros relatos semelhantes, explicita-se que Francisco era "naturalmente sorridente e jovial".O semblante de Francisco irradiava uma indizível alegria, inclusive nos momentos mais difíceis e até dramáticos de sua existência (1Cel 5,10). Conta-se que um dia, ao caminhar alegremente por um bosque, de repente, foi atacado por ladrões. Bateram nele e o atiraram em um barraco, cheio de muita neve. Mas ele, assim que os ladrões se retiraram, saltou para fora da fossa e, com alegria redobrada, começou a cantar em alta voz louvores ao Criador de todas as coisas (1Cel 7,16). Relata-se também que Francisco conservou sua alegria mesmo no cárcere, em Perúgia. Os seus companheiros de prisão o consideraram um louco porque, "enquanto eles estavam tristes, ele [...] não parecia entristecer-se, mas de certo modo [parecia] alegrar-se" (3Soc 4).No entanto, relata Celano, que Francisco inflamou-se de peculiar alegria, a ponto de não caber mais em si (1Cel 3,7), ao descobrir a sua razão principal de viver, ou melhor, quando "mostrou-lhe o Senhor o que convinha fazer" (1Cel 3,7). Em outras palavras, alegrou-se sobremaneira quando o Altíssimo "fixou sobre ele o seu olhar" (2Cel 10,12) e lhe revelou que a felicidade (beatitudo) não está no âmbito da fortuna, isto é, na ordem do ter, do poder, do saber, das honras e dos prazeres do corpo, mas do ser. O Altíssimo lhe mostrou que "muito mais felizes são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática" (Lc 11,28). E à medida que Francisco dispôs-se a obedecer à Palavra de Deus, revelou ao mundo que o Evangelho é fonte de inesgostável alegria e que a felicidade nasce da conformidade íntima entre o que se quer e o que se vive.De fato, o Pobre de Assis alegrou-se muito com a descoberta do dom de sua vocação de ser feliz na sequela Christi. E essa alegria se intensificava sempre mais cada vez que alguém o procurava com o desejo de ser feliz à maneira dele e, "levado pelo espírito (cf Mt 4,1) de Deus, vinha para receber o hábito da santa Religião" (1Cel 12,31). Ele recebia cada irmão benignamente, isto é, como dádiva divina. Basta recordar aqui a peculiar alegria que tomou conta de Francisco quando Frei Bernardo associou-se a ele, pois, "o Senhor parecia ter cuidado dele, dando-lhe o companheiro necessário e o amigo fiel" (1Cel 10,24).A fraternidade é, portanto, um dom de Deus, bem como é dádiva divina a alegria que extravasam os irmãos à medida em que se unem e, em comunhão dialógica, respondem ao chamado do Senhor de viver e anunciar o Evangelho de Jesus Cristo. A vida em fraternidade é fonte de alegria porque a felicidade está arraigada em ter a quem amar e amá-lo efetivamente. Por conseguinte, na vida humana, ou melhor, na vida em fraternidade existe tanto de alegria quanto há de amor. A caridade é realmente fonte e expressão de alegria, conforme atesta o seguinte relato de Tomás de Celano: "Com quanta caridade os novos discípulos de Cristo se abrasavam! Quão grande amor de companheirismo vigorava neles! Pois, quando se reuniam em algum lugar, ou se encontravam no caminho, como acontece, resplandecia o fogo do amor espiritual, espargindo sobre todo amor as sementes da verdadeira afeição. Como? Abraços castos, afetos suaves, ósculo santo, conversa agradável, riso modesto, fisionomia alegre, olhar simples (cf. Mt 6,22), ânimo suplicante, língua que abranda, resposta delicada (cf. Pr 15,4.1), o mesmo propósito, pronto serviço e mão infatigável" (1Cel 15,38).O pai Francisco deu tanta importância à atitude de permanente alegria dos frades que a colocou como preceito em sua primeira Regra: "E cuidem [os frades] para não se mostrar exteriormente tristes e sombriamente hipócritas; mas mostrem-se alegres no Senhor (cf. Fl 4,4), sorridentes e convenientemente simpáticos" (RnB 7,16). E os irmãos que apresentavam um rosto desanimado, cabisbaixo, sisudo e triste eram severamente admoestados por Francisco (2Cel 41,128), pois, considerava essas expressões de vida incompatíveis com uma opção de vida segundo o Evangelho de Cristo. Além disso, um irmão acabrunhado, choroso e desolado é facilmente levado a alegrias vãs (2Cel 88,125). Esse torna-se presa fácil dos demônios, visto que, diz Celano, "o demônio exulta acima de tudo, quando pode [roubar] ao servo de Deus a alegria de espírito" (2Cel 88,125).Por conseguinte, a melhor arma ou o remédio mais eficaz contra toda espécie de vício é a alegria espiritual. E a alegria espiritual radica-se na virtude da caridade. Quem a possui é feliz e "os demônios não podem ofender o servo de Cristo, quando o virem repleto de santa alegria" (2Cel 88,125). Francisco, na Saudação às Virtudes, enfatiza que "a santa caridade confunde todas as tentações diabólicas e carnais e todos os temores (cf. 1Jo 4,18) da carne" (SV 13). Quem possui uma virtude e não ofende as outras tem todas e com elas confunde todos os vícios e pecados. Foi, portanto, dessa forma que Francisco manteve-se sempre na alegria do coração (2Cel 88,125).A alegria do coração puro de Francisco e dos seus companheiros transborda para fora dos limites da Fraternidade constituída pelos irmãos na Ordem. Os irmãos, extravasando de alegria divina, vão ao encontro de todos os seres humanos, especialmente dos mais necessitados. É um dever alegrar-se junto aos menos favorecidos, conforme lê-se na Regra não Bulada: "os irmãos devem alegrar-se quando conviverem entre pessoas insignificantes e desprezadas, entre os pobres, fracos, enfermos, leprosos e os que mendigam pela rua" (RnB 9,2).Todavia, a alegria franciscana deve estender-se natural e necessariamente a todos os seres do universo. Pois, todos têm a sua razão de ser em Deus que os cria livremente e, por isso, são diferentes manifestações da potência, da sabedoria e da suprema bondade de Deus. O sol, a lua, as estrelas, a terra, a água, o fogo e o vento são fontes de admiração e de inefável alegria para Francisco, porque cada criatura, na sua irrepetível singularidade, é conhecida, amada e criada no Filho e pelo Verbo eterno de Deus Pai. Enfim, Francisco, após um longo e gigantesco esforço de purificação, exultante de alegria, compôs os louvores ao Criador: "Louvado sejas meu Senhor, com todas as tuas criaturas".No entanto, a alegria franciscana somente chega ao ápice da perfeição no cumprimento das santíssimas palavras e obras do Senhor: "Amai vossos inimigos e fazei o bem àqueles que vos odeiam" (cf. Mt 5,44) (RnB 22,1). Nosso Senhor promete a eterna alegria como recompensa àqueles que acolhem com amor aos seus inimigos: "Felizes sereis quando vos insultarem e perseguirem e, por minha causa, disserem todo tipo de calúnia contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque grande será a vossa recompensa nos céus" (Mt 5,11-12). A alegria consuma-se, portanto, num amor tão intenso que não apenas suporta, mas abraça pacientemente e de bom coração as injúrias, os opróbrios e desprezos "por causa de Jesus Cristo e da caridade de Deus".No diálogo de Francisco com Frei Leão acerca da Perfeita Alegria, evidencia-se que o ser humano recebeu do Espírito Santo o carisma de "vencer-se a si mesmo" (Fior 8) até o total abandono de si: "Pai, em tuas mãos entrego meu espírito" (Lc 23, 46). O amor de Deus expresso na Cruz de Jesus Cristo é, portanto, o mistério íntimo da Perfeita Alegria de Francisco e seus primeiros companheiros.Por fim, evocamos a inaudita alegria que Francisco experimentou nos momentos mais agudos de sofrimento que precederam sua morte corporal. Na iminência da morte, já com o corpo bastante debilitado pela enfermidade, "rindo e alegrando-se, tolerava de muito boa vontade o que era a todos penoso e insuportável olhar" (1Cel 8,107). De fato, a real proximidade da hora extrema da morte não lhe causou tristeza, pois, "tendo amado até o fim os frades seus filhos, recebeu a morte cantando" (2Cel 162,214). Assim, Francisco, no auge de sua maturidade humana e espiritual, cheio de esplendor e alegria, de que os irmãos muito se maravilharam, passou da presente à bem-aventurada vida (Fior 6).Portanto, Francisco possuía, sim, uma índole alegre. Porém, transbordou realmente de "alegria espiritual" (2Cel 88,125) ao optar livremente pelo Evangelho de Jesus Cristo, fonte de genuína e inesgotável alegria. A alegria plena encontra-se na interioridade mais íntima da alma humana, isto é, na "inocência matinal" do total desprendimento e na posse de Deus. A existência de Francisco foi expressão de "inaudita alegria" (2Cel 137,181) porquanto deixou-se impregnar e enlevar pelo espírito da jovialidade de Deus, que amorosamente se humanizou em Jesus Cristo, para que pudéssemos encontrar em sua Cruz a nossa perfeita e eterna alegria.
Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/artigos/mannes_171008/ acesso em 22 out. 2008.