Franciscanismo

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quinta-feira, 23 de abril de 2009

Pelos olhos de Francisco o amargo se faz doce

Francisco conta que no episódio com o leproso, o que até então era  amargo se tornou doce e ele o amou e beijou com carinho maternal. O horror das chagas se transformou no brilho dos olhos de Jesus, esposo querido que Francisco e os seus, nunca mais quiseram se apartar. Jesus mudou o foco daquela vida, até então fútil e ambiciosa. Francisco era mais um jovem em busca de sonhos e conquistas, no entanto, suas metas visavam atender apenas ao egocentrismo que até então pairava em sua personalidade.
Muitas vezes, construímos uma visão extremamente romântica de São Francisco de Assis. O vemos como aquele que andava entre os animais, que a todos anunciava o amor e a cortesia sem, com isso, percebermos a grandeza do esforço e as dificuldades imensas que forjaram esse caráter santo que hoje ilustra os nossos românticos sonhos franciscanos. Francisco viveu duas grandes e terríveis crises que ajudaram a amadurecer sua alma e construir sua forma de ser e de viver tão almejada por muitos até os dias de hoje. Viu serem jogados por terra seus sonhos de conquista e poder. Lutou e perdeu! Esteve preso e no cárcere pôde perceber a fragilidade das ambições humanas diante da imensidão misericordiosa que é o Pai. Tendo comprada a sua liberdade por Pedro Bernadone, seu pai e estando doente e fraco, passou por profunda reflexão que ainda não foi suficiente para removê-lo de seus sonhos juvenis. Nova empreitada bélica surge diante de seus olhos e novamente o sonho de ser nobre excita aquele homem ainda confuso sobre as coisas de Deus.
Porém, o Pai atuou diretamente em sua história. Já amaciado pela dor e pelos horrores do cárcere, o seu íntimo já se colocava em condições de receber o sopro irresistível do Espírito Santo que o atraiu e “capturou” definitivamente. O episódio com o leproso foi o divisor de águas que marcou tal transformação, no entanto, foram momentos e mais momentos entre grutas e solidão, escárnio e opressão até que ele enfim se tornou líder de uma fraternidade que hoje é universal e transcende em muito os limites da igreja. A ordem iniciante sofreu muitas dificuldades  (exploração por sua mão de obra barata, indiferença, humilhações e expropriações de seus espaços e de atuação e louvor, etc.), porém se manteve firme até ser reconhecida como comunidade santa.
Porém, como Francisco mesmo relata, a partir de seu reconhecimento e legitimação aconteceram os piores momentos para aquele grupo iniciante e sonhador: o crescimento indiscriminado, a vontade de arrefecer a forma de vida que eles levavam e os diversos tipos de dificuldades provindas de todo grupo que se engrandece, geraram em Francisco uma crise muito mais avassaladora do que a primeira por ele vivida. Se na primeira crise o perfume divino o inebriava, na segunda, as trevas da dúvida o assolaram de forma dolorosa e cruel. Francisco teve dúvidas, medos e a sensação de que tudo que vivera e propagara não passava de loucura demoníaca e sem sentido. Foi o pior momento! Geralmente pensamos que os santos nascem e morrem com a aura da santidade, sempre com a melhor resposta e atitude para todos os questionamentos humanos. Não! A santidade se constrói a duras penas, com suor, medos e dúvidas!
Quando tudo parecia perdido para aquele homem sedento de Deus e de paz, surge à figura de Clara para acolhê-lo e recolocá-lo no caminho da fé e da confiança. Às vezes pensamos em Santa Clara como bela coadjuvante no franciscanismo nascente, porém ela foi uma protagonista fundamental para dar rumo à fraternidade que nascia. Dela foi o conselho a Francisco para não se enclausurar e viver uma vida apenas contemplativa, como também foi dela o apoio firme, como necessitava a ocasião, para que Francisco saísse do caos em que se metera.
No monte Alverne, Francisco retomou a força e a fé ao receber os estigmas de Cristo como prova de sua aliança com Ele, no entanto, se subiu até lá foi graças ao impulso de Clara e ao apoio humildíssimo de Frei Leão, tudo movido é claro, pela ação do Espírito Santo.
Enfim, nunca poderemos falar em franciscanismo sem falarmos de fraternidade e comprometimento entre nós, pessoas simples que querem abraçar esse tipo de vida. Só existe vida franciscana, onde há apoio mútuo e cuidado maternal uns pelos outros e respeito e obediência as instâncias da Igreja. Sem os olhos do outro não há fraternidade franciscana, pois os olhos do outro são os faróis que sustentam o ideal franciscano.

Paz e bem!

Frei Sidney

segunda-feira, 20 de abril de 2009

A imagem de Deus no século XXI

O acesso ao Rosto de Cristo foi mediado ao longo de vinte séculos, mediação que prossegue hoje como a via mais próxima e adequada. Deus nos mostra sua proximidade nos sinais que coloca nos nossos caminhos. Em Cristo Deus não fez apenas uma visita, retirando-se de seguida. Em Cristo ficou aliado a qualquer homem de boa vontade, mais ou menos desfigurado, mas sempre seu irmão. O “outro”, como irmão, prossegue sendo a mediação do Senhor no rosto do seu Cristo nos caminhos dos homens de hoje.

Qual será o “rosto mais perceptível”? O texto de Lucas 15, comumente chamado “as parábolas da misericórdia”, pode ser um bom lugar para iniciar uma resposta temerária para o novo século. O tempo muda de forma muito rápida. Não podemos pretender apostar neste rosto ao longo de todo este século nascente, mas será por aqui que Deus prossegue a sua revelação para os homens de hoje. Lucas 15, particularmente na parábola do “filho pródigo” (15,1-32), apresenta o rosto de marca de Deus em Jesus Cristo, já que o Pai da parábola não é solitário mas tem dois filhos que são irmãos. A face de Deus é a de um Pai bondoso, providente e rico que, na partida, assegura aos dois filhos uma fortuna abundante para que cada um seja um gestor livre e feliz. O Pai é rico, mas nada exigiu em troca (na volta do filho mais novo de mãos abanando e de identidade reencontrada). Além disso, o Pai é promotor da liberdade. Sabe que os dois filhos são iguais diante dele e, por isso, divide os bens entre eles para que possa dar asas à liberdade do mais novo que sai e do mais velho que passa a ser o grande gestor do patrimonio restante. “Repartiu” com ele o que tinha e o “filho mais novo” foi experimentar a sua liberdade, em ambiente penoso e difícil, sobretudo quando a riqueza se tornou penúria. O Pai deixou partir, dando da superabundância do seu amor. A liberdade é maior que tudo, como dom e o Pai não a quer confiscar. Será tarefa do filho saber como se deve orientar. O Pai é respeitador do seu itinerário, pressupondo uma educação esmerada que estes dois filhos deveriam possuir. Respeitador das decisões para que a liberdade seja maior, enquanto lugar de futuro, decisão plena de uma vida responsável. O Pai respeita e faz respeitar, pois no regresso ajuda o filho mais velho a voltar ao seio da fraternidade que perdera e que lhe endureceu o coração. Pai rico, providente, doador de liberdade e respeitador, faz festa na hora do regresso, pois, como Pai, nunca deixou o filho sair do coração, embora o deixasse experimentar outros caminhos, outras casas, outros mundos, outros amores.

Se o Pai tem este rosto, os irmãos são singulares. Cada um nunca copia o outro, mas sente o amor do Pai de forma única e faz um itinerário que o singulariza diante do Pai. Os filhos podem, em determinada circunstância, perder a fraternidade. Deixam de se aceitar como “irmãos”, o que está gravado na atitude ressentida do mais velho da parábola que nem sequer trata o mais novo como irmão, mas devolve-o ao Pai como “esse teu filho”. Compete ao pai oferecer de novo a fraternidade ao irmão mais velho, chamando-lhe a atenção para a permanente estadia na casa do pai que também é a casa do irmão. A festa concretiza-se porque há irmãos, os dois. Se no irmão mais novo o rosto é desfigurado por uma vida dissoluta, com falsos amigos e maus amores, longe da casa, no mais velho o rosto é também desfigurado pelo corte com a fraternidade, pelo ressentimento e pelo pedido de contas quando da festa iniciada.

A narrativa é ainda mais rica, mas o que se diz é suficiente para entender, nesta ótica, o rosto mais perceptível de Jesus Cristo no nosso século XXI. Não se tratará tanto de propor belos discursos sobre Deus, mas de apresentar o Seu Rosto como Pai que tem dois filhos. Pai libertador que está, que visita, que cuida, que ama e que partilha abundantemente, Pai que respeita para que a liberdade seja assumida como dom. Pai da fraternidade. Não adiantará falar de Deus numa óptica narcisista ou num cultivo exagerado do “eu” no caminho de salvação. Importa propô-lo na fraternidade assumida e vivida no quotidiano. Trata-se de um Pai que tem dois filhos, diferentes, com ideais diversos e com metas que passam por sendas diferentes, mas irmãos que não devem esquecer-se de que o são. O rosto mais perceptível terá os traços da fraternidade, será sob o seu signo. O século XXI não teorizará imenso sobre o assunto, mas cedo despertará para a urgência deste valor como porta aberta à sobrevivência, Não há rosto pessoal que possa descobrir-se e aceitar-se sem um outro rosto que lhe devolva a imagem. Mais do que parceiros, os homens apontam para a mesma fonte de vida, a riqueza amorosa de Deus. É este caminho do encontro.

Este rosto não fará avançar muito o cristianismo, enquanto movimento dos cristãos nas suas instituições e com uma organização secular que ainda hoje é forte. O futuro é mais dos cristãos do que da instituição organizada. Os filhos e filhas imaginarão formas novas de convivência, outras organizações. O cristianismo institucionalizado mudará, por certo, de formas. A fraternidade entre os povos tem de encontrar outras plataformas institucionais. Os cristãos inventarão outras socialidades e Deus será dito em instituições novas com base nos padrões sociais hoje em incremento. O futuro do próprio cristianismo dependerá muito da imaginação dos novos grupos fraternos que ajudarão a criar uma mentalidade nova para habitar a terra de todos. Isto significa que a aspiração à liberdade verdadeira, cuja fonte se encontra no próprio Deus, é uma realidade em movimento que dá a este rosto de Jesus Cristo uma nova carga, uma outra marca. As pessoas funcionam mais por sugestão razoável do que por imposição normativa; o movimento formativo a que assistimos em todos os quadrantes originará cristãos convictos que se entregarão às causas da libertação para que a terra não seja usurpada por uns, mas pertença na sua riqueza a todos porque é terra de Deus. E nisso a Igreja Católica Apostólica Independente é pioneira, nos movimentos de ir e vir de Dom Salomão Ferraz, no seu radical ecumenismo, e seu sentido de pertença a Igreja de Cristo, independente da denominação. O século XXI assistirá a este movimento de renovação das pessoas, numa viagem séria à sua interioridade, descobrindo-se irmãos livres e, assim, apreciando o Evangelho inscrito nos seus caminhos fraternos em benefício da liberdade. Talvez as instituições globais não sejam fortes no futuro; o lugar pertencerá às pessoas e aos grupos intermédios, às comunidades de dimensão humana nas quais se realizam e vivem felizes.

Disse ainda: «Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte dos bens que me corresponde.’ E o pai repartiu os bens entre os dois. Poucos dias depois, o filho mais novo, juntando tudo, partiu para uma terra longínqua e por lá esbanjou tudo quanto possuía, numa vida desregrada. Depois de gastar tudo, houve grande fome nesse país e ele começou a passar privações. Então, foi colocar-se ao serviço de um dos habitantes daquela terra, o qual o mandou para os seus campos guardar porcos. Bem desejava ele encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. E, caindo em si, disse: ‘Quantos empregados de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui morrendo de fome! Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e vou dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados.’ E, levantando-se, foi ter com o pai.Quando ainda estava longe, o pai viu-o e, enchendo-se de compaixão, correu e lançou-se ao pescoço e cobriu-o de beijos.
O filho disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho.’ Mas o pai disse aos seus servos: ‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha; dai-lhe um anel para o dedo e sandálias para os pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o; vamos fazer um banquete e alegrar-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado.’ E a festa principiou. Ora, o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao aproximar-se de casa ouviu a música e as danças. Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo. Disse-lhe ele: ‘O teu irmão voltou e o teu pai matou o vitelo gordo, porque chegou são e salvo.’ Encolerizado, não queria entrar; mas o seu pai, saindo, suplicava-lhe que entrasse.Respondendo ao pai, disse-lhe: ‘Há já tantos anos que te sirvo sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos; e agora, ao chegar esse teu filho, que gastou os teus bens com meretrizes, mataste-lhe o vitelo gordo.’ O pai respondeu-lhe: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado.’»

 

Pe Fr Gelson, oasf

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Paixão de Cristo

PAZ!
 
 
Dentro de poucas horas vamos comemorar a sexta-feira da paixão. Incrível que há mais certeza sobre a morte de Cristo do que sobre a existência de César!
 
Na sexta feira, há muito tempo, Jesus de Nazaré, depois de ter sofrido humilhações diversas, vai para o Monte ser crucificado. Como foi um condenado de última hora teve de carregar sua cruz.
 
O caminho não foi fácil até o alto do monte e ficava cada vez pior. Jesus tinha perdido muito sangue, sofrido barbaridade, mas não se via nele qualquer coisa que não a decisão de levar sua missão, por mais difícil que fosse, até o fim. Foi posto sobre a cruz e cravos foram enterrados nas mãos ou pulsos e pés.Mas nenhum gemido se ouviu.
 
A cruz foi erguida e de cada lado havia outra cruz com prisioneiros. Jesus ficou dependurado e ao invés de xingar, maldizer,   ....     abençoou !!
 
Horas depois ELE estava morto; morreu como que afogado no meio do deserto. O céu escureceu, o veu do templo se rasgou de alto a baixo.
 
Um solitário centurião exclamava "verdadeiramente este era o filho de Deus!"
 
Faz tanto tempo que isso aconteceu mas ainda está vivo dentro de nós que amamos a ELE e o anunciamos com fé e devoção...
 
Esse sacrifício não foi gratuito, mas prova de amor maior pois estava escrito que sem derramamento de sangue não há remissão de pecados e, o sacrifício precisava ser puro, sem máculas...perfeito - assim era (e é ) Jesus.
 
Deus amou o mundo de tal maneira que enviou seu filho unigênito para que todo aquele que nele crer não pereça mas tenha a vida eterna.
 
Esse não foi um simples sacrifício, mas prova de amor. Hj não há mais necessidade de sacrifícios, Jesus já fez o único sacrifício válido. O que me resta? Aceitar sua Mensagem, aceitar viver a vida como Jesus a viveu, aceitar viver a vida como verdadeiro cristão onde se vê amor, fé e esperança.
 
Deus abençoe.
 
++D. Ydenir, Arcebispo Anglicano