Franciscanismo

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terça-feira, 5 de maio de 2009

Fontes Franciscanas e Clarianas

O QUE SÃO FONTES?

Todos sabemos que a melhor água é a que se pode beber na fonte, sem ter passado por reservatórios, encanamentos, tratamentos.

Para qualquer estudo de valor histórico, também é fundamental ir buscar as informações nas suas fontes. Falando em Fontes Franciscanas, queremos saber qual a melhor forma de ter informações genuinas sobre São Francisco de Assis e o movimento franciscano.

Foi só no fim do século XIX que se começou a trabalhar o material franciscano a partir de fontes garantidas. Antes disso, era comum usar uma metodologia popular, que só visava a divulgação.

I - Fontes

Fontes históricas são documentos de qualquer tipo em que possamos descobrir de maneira direta os fatos passados pelos quais estamos interessados.

Às vezes também são importantes documentos indiretos, que são antigos e se basearam nas fontes. Nesse caso, não falamos em fontes mas em subsídios. Mas os subsídios adquirem valor de fontes se os documentos mais antigos em que foram baseados tiverem sido perdidos.

II - Tipos de Fontes

Há dois tipos principais de Fontes: os vestígios e os testemunhos. Os vestígios foram deixados inconscientemente; os testemunhos foram deixados por pessoas que quiseram passar alguma coisa para a história.

  1. Vestígios são, por exemplo, objetos (como ossos, utensílios, armas...) ou tradições (como instituições, usos, costumes...) ou mesmo escritos (como acordos políticos, anotações pessoais ou comerciais...).
  2. Testemunhos podem ser mudos, orais ou escritos. Em geral são mais claros e reveladores mas podem não ser tão originais, porque nós sempre julgamos e selecionamos o que comunicamos.

Testemunhos mudos são, por exemplo, os monumentos, os ritos que se instituiram para preservar a história. Testemunhos orais são, por exemplo, mitos, provérbios, cânticos...

Os testemunhos escritos costumam ser os mais importantes e são constituídos geralmente por narrativas, documentários ou expressões de atividades artísticas.

III - As fontes franciscanas

Neste caderno, vamos falar só de documentos escritos, dividindo-os em três grandes seções: os Escritos de São Francisco, as Biografias e as Crônicas:

A. Escritos de São Francisco: Vamos dar a lista completa e a apresentação a partir da página 5.

B. Biografias: Vamos dar a lista completa e apresentação das mais importantes a partir da página 17.

C. Crônicas: Damos a lista e a apresentação das mais importantes a partir da página 59.

Primeira Parte

OS ESCRITOS DE SÃO FRANCISCO

Apresentação geral

Introdução

Os Escritos de São Francisco não devem ser entendidos como um programa apresentado por ele, como definições do que ele pensava e queria que os outros pensassem. Não temos que entendê-lo abstratamente, porque ele não é um intelectual. O que escreveu é o transbordamento do que ele sentia diante de Deus e das pessoas. A Deus ele celebra, aos homens, ele exorta.

Nesses escritos, nós auscultamos, apalpamos, entramos em contato com a sua experiência viva, com a sua personalidade, com as suas intenções. É assim que encontramos nele uma proposta de vida.

Mas é claro que não poderemos ficar só com os Escritos. Todas as Fontes, mesmo exigindo uma leitura atenta e crítica, são necessárias para entendêlo no seu tempo, na sua terra; um tempo e uma terra que ele viveu como intensamente seus. E todos os outros estudos que nos ajudem a conhecer o homem medieval também são fundamentais.

Nesta seção, queremos oferecer uma visão breve mas de conjunto sobre todos os Escritos. Cada um deles tem que ser lido, meditado, rezado, assimilado. Mas cada um deles tornase muito reduzido se não for bebido e vivido no conjunto de todos os outros.

Quais são?

Os Escritos de São Francisco que possuímos hoje são pouco mais de trinta. Podemos dizer que são trinta e oito. Há diversas maneiras de agrupá-los e de contá-los. Propomos a seguinte:

A. Exortações (são 3):

1. Admoestações

2. Testamento

3. Cântico "Ouvi, pobrezinhas!"

B. Textos de proposta de vida fraterna ou legislativos (são 6):

4. Regra não bulada

5. Regra bulada

6. Regra para os Eremitérios

7. Forma de Vida para Santa Clara

8. Última Vontade para Santa Clara

9. Fragmentos de outra Regra não bulada

C. Cartas (são 11):

10. Primeira Carta aos Fiéis

11. Segunda Carta aos Fiéis

12. Primeira Carta aos Custódios

13. Segunda Carta aos Custódios

14. Primeira Carta aos Clérigos

15. Segunda Carta aos Clérigos

16. Carta a toda a Ordem

17. Carta a um Ministro

18. Carta aos governadores dos povos

19. Carta a Frei Leão

20. Carta a Santo Antônio

D. Orações (são 10):

21. Oração diante do crucifixo

22. Exortação ao Louvor de Deus

23. Louvores para todas as Horas

24. Ofício da Paixão

25. Exposição sobre o Pai Nosso

26. Bênção a Frei Leão

27. Louvores a Deus Altíssimo

28. Saudação à B. Virgem Maria

29. Saudação às Virtudes

30. Cântico de Frei Sol

E. Fragmentos em outros livros

31. Bênção a Frei Bernardo

32. Bênção a Santa Clara

33. Testamento de Sena

34. Ditado da V. e Perfeita Alegria

35. Carta a Frei Jacoba

36. Carta aos Bolonhenses

37. Carta aos Frades Franceses

38. Carta a Santa Clara sobre o jejum

 

Mais adiante, vamos fazer uma apresentação de cada um desses escritos. Ficará explicado, então, porque há outras maneiras de agrupar e contar os Escritos de São Francisco.

Não autênticos ou inseguros

A última edição dos Escritos, feita por Caetano Esser em 1976, apresenta como duvidosos ou seguramente não autênticos 24 textos antes já atribuídos a São Francisco. Pertencem a este grupo: as cartas a Frei Agnelo de Pisa, a Frei Bernardo, a Frei Elias, à condessa Joana, ao eremitério de Porto Vegla; as orações "Absorbeat" (que as Fonti Francescane italianas consideram autêntica), "Sancta dei Genitrix Maria", a "Oração simples pela paz" (que surgiu na França em 1914) e outras orações, mas principalmente a "Regra dos irmãos e irmãs da penitência", que anteriormente tinha sido incluícluída pelo próprio Esser no seu livrinho dos Opúsculos.

História dos Escritos

Como é que os Escritos de São Francisco chegaram até nós? Alguns têm uma documentação muito antiga, outros constam de coleções medievais. E outros foram descobertos há bem pouco tempo.

Vamos apresentá-los em três grupos: 1) os testemunhos mais antigos; 2) as coleções medievais; 3) Outras descobertas.

1. Os testemunhos mais antigos

a) Autógrafos

Três dos Escritos de São Francisco chegaram até nós como saíram de suas mãos. Dois, a Bênção a Frei Leão e osLouvores a Deus Altíssimo, estão nos dois lados de um mesmo pergaminho, conservado e exposto na Basílica de São Francisco em Assis. Um terceiro, a Carta a Frei Leão, está exposto na catedral de Espoleto. São pergaminhos pequenos, que Frei Leão guardou consigo até o fim da vida.

b) O códice B. 24 da Biblioteca Vallicelliana em Roma

Pertencia à Abadia beneditina do Subiaco e contém um missal em que se transcreveu (entre os anos de 1219 e 1238) a Primeira Carta aos Clérigos. É o códice mais antigo com um escrito de São Francisco. Contém o sinal "tau com a cabeça", como a bênção a Frei Leão.

c) Um sermão de 1231

Pregando aos universitários de Paris, no dia 13 de julho de 1231, um dominicano citou a Admoestação 6, atribuindo-a explicitamente a São Francisco.

2. As coleções medievais

Há quatro coleções antigas, já estudadas por Paul Sabatier (1858-1928) e Sofrônio Clasen OFM (+1975):

a) O códice 338 de Assis

Pertencia ao Sacro Convento de Assis e foi seqüestrado em 1810, passando a pertencer ao governo italiano, que, desde 1981, permitiu que voltasse a ser guardado no convento.

Foi escrito por frades do Sacro Convento antes de 1279, no tempo do Ministro geral Alberto de Pisa ou no de Haimo de Faversham.

b) A Compilação de Avinhão

Também é conhecida como coleção Fac secundum exemplar, pelo seu prólogoÉ o trabalho de um frade que, por volta do ano 1340, reuniu informações sobre São Francisco que não constavam na Legenda Maior.

c) O grupo da Porciúncula

São oito manuscritos feitos por copistas profissionais, provenientes de conventos da estrita observância na Itália central. São do sec. XIV, um deles certamente de antes de 1370.

d) O grupo do norte ou da província de Colónia

São 11 manuscritos, também feitos por copistas profissionais, mas de fora de Ordem: cônegos regulares ou crucíferos da Renânia ou dos países baixos. São do fim do sec. XIV ou do começo do XV.

Ao todo, esses quatro grupos somam uns trinta códices, que constituem a base de quase todos os outros manuscritos conhecidos.

Todas essas coleções apresentam as Admoestações, a Segunda Carta aos Fiéis, a

Carta a toda a Ordem e a Saudação às Virtudes. As três primeiras dão também a Regra Bulada e o Testamento.

Assis, Avinhão e Norte dão também a Regra para os Eremitérios e os Louvores para dizer em todas as Horas. Avinhão e Porciúncula trazem a Bênção a Frei Leão e a Saudação a B.V.Maria. Assis e Avinhão dão o Ofício da Paixão e o Canto de Frei Sol. Só Avinhão traz a Oração diante do Crucifixo e a Carta a Santo Antônio. Só Porciúnculatem a Carta a um Ministro e a Regra não Bulada. Avinhão dá um pedacinho do cap. 16 da Regra não Bulada.

3) Outras descobertas

Há também algumas coleções conservadas em códices do sec. XIV e XV. A mais importante está guardada no Antonianum de Roma. Em Oxford guardam o códice 525, escrito entre 1384 e 1385. Na biblioteca Guarnaci, de Volterra está o códice 225. Na biblioteca Vallicelliana de Roma está o códice B131. Numerosos manuscritos dão só um ou dois Escritos, em geral a Regra Bulada e o Testamento. Todos esses pergaminhos foram descobertos nos últimos anos do sec. XIX ou no século XX.

Ouvi Pobrezinhas só foi encontrado em 1976.

Edições impressas

Nos tempos modernos, as edições dos Escritos de São Francisco estão ligadas ao nome de alguns estudiosos que as publicaram. Vamos apresentar: 1) Lucas Wadding, 2) Paulo Sabatier, 3) Lemmens e Boehmer; 4) Caetano Esser

1. Lucas Wadding

Desde a invenção da imprensa, publicaramse Escritos de São Francisco.

Mas não eram coleções sistemáticas nem estudos críticos.

A primeira edição organizada foi feita em 1623 por Lucas Wadding, o frade irlandês que publicou os Annales Minorum. Foi ele quem usou pela primeira vez a palavra Opúsculos, depois amplamente adotada. Opúsculos quer dizer "obrinhas", por isso nós preferimos falar sempre em Escritos de São Francisco.

O livro de Wadding tinha 710 páginas de tamanho gigante. Ele recolheu junto com os escritos propriamente ditos também discursos, alocuções, exortações, orações. Era uma edição preciosa mas confusa. Em quase três séculos, teve muitas traduções e muitos resumos, até que os editores modernos se dedicaram a estudar o que era mesmo autêntico e o que era apócrifo.

Em 1748, Frei Manuel de São Boaventura publicou em Portugal uma coleção chamada Polyanthea seu Florilegium Seraphicum, em que incluiu o texto de Wadding.

A primeira tradução de Escritos de São Francisco deve ser uma francesa de 1632. As italianas começaram a aparecer no fim do sec. XVIII. No sec. XIX, multiplicaram-se em quase todas as línguas ocidentais.

2. Paulo Sabatier

No final do século XIX, quando o mundo ocidental estava mergulhado no positivismo e no laicismo, Paulo Sabatier, um pastor protestante francês, discípulo de Renan, fez surgir uma nova primavera ao publicar uma Vida de São Francisco, em 1893. Ele se entregara a estudos científicos dos pergaminhos que falavam de São Francisco e revolucionou as buscas franciscanas, já então bastante insatisfeitas com o trabalho de Wadding, por incluir em pé de igualdade obras legítimas e tantos outros escritos inseguros ou certamente espúrios.

As sucessivas publicações de Sabatier, sempre amplamente acolhidas ou discutidas, animaram outros estudiosos a sair em campo para rever os Escritos de São Francisco e suas Fontes históricas. A Questão Franciscana movimentou muita gente em toda a Europa.

Foi assim que nasceram as primeiras edições críticas dos Escritos, amplamente esperadas. Mas isso só foi acontecer no começo do século XX.

3. Lemmens e Boehmer (1904)

Em menos de quatro meses, em 1904, foram publicadas duas edições críticas: a de Lemmens e a de Boehmer.

O franciscano Leonardo Lemmens publicou o seu Opuscula sancti patris Francisci Assisiensis sec. codices mss, emendata et denuo edita a PP. Collegii S. Bonaventurae ad Claras Aquas, em Quaracchi, perto de Florença. Trabalhou em cima do códice 338 de Assis comparando-o com outros manuscritos, em número bastante reduzido, todos pertencentes ao grupo da Porciúncula. Como se limitou aos escritos em latim, nem incluiu o Cântico de Frei Sol, cujo original era em italiano e estava no códice 338.

Heinrich Boehmer era um leigo, tido como um dos mais qualificados estudiosos da Universidade de Tubingen. A obra saiu dentro das Analekten zur Geschichte des Franciscus von Assisi. Tinha 146 páginas, sem contar as 72 de introdução. Apresenta a história dos Escritos, a edição de Wadding e distingue os diversos escritos do Santo. Usou principalmente os manuscritos da coleção de Avinhão, 60 códices. Para ele, a Regra da Ordem Terceira já não era documento autêntico.

Depois dessas duas edições críticas, o número de escritos de São Francisco ficou bastante reduzido, mas seguro. É interessante que as duas obras foram feitas independentemente mas coincidiram em quase tudo. E é preciso reconhecer que a colaboração de Sabatier, com suas pesquisas e publicações, foi muito grande.

4. Caetano Esser OFM.

A edição crítica (1976-1989)

Nos primeiros decênios deste século, os pesquisadores encontravam praticamente um manuscrito franciscano por mês: ou das fontes históricas ou dos Escritos. Estavam empenhados em resolver a Questão Franciscana. O resultado foi um conhecimento cada vez melhor dos Escritos.

Quem mais se destacou no estudo dos Escritos e das origens franciscanas foi Caetano Esser OFM (1913 - 1978), da Província de Colônia. Fez uma tese de doutorado sobre o Testamento. Para isso, comparou um por um todos os pergaminhos que traziam o Testamento. Descobriu assim a dependência entre os diversos códices e estabeleceu as bases para uma edição crítica. Continuou a estudar todos os Escritos de São Francisco.

Em 1968, o Conselho Plenário da OFM encarregou uma comissão de preparar uma edição crítica. Ela publicou seus trabalhos em 1972: reuniu 196 códices que continham os Escritos, sem contar mais 56 que só tinham a Regra não Bulada e o Testamento. E Esser continuou seus estudos.

Em 1976, como em 1904, saíram duas edições críticas, mas, desta vez, as duas feitas por franciscanos. Uma foi a de Esser, outra de Frei João Boccali, OFM, que publicou uma concordância dos Escritos de São Francisco e de Santa Clara.

A obra de Esser foi editada em alemão, com uma tiragem bem reduzida. Em 1978, saiu uma edição menor, em latim, reduzindo o aparato crítico ao mínimo, para ser usada pelos alunos. Serviu de base para numerosas traduções nas línguas modernas.

Para ter uma idéia de como se faz uma edição crítica

O fundamental é estudar todos os pergaminhos antigos para chegar a estabelecer um texto seguro, isto é, o mais próximo possível do que foi escrito no tempo de São Francisco.

A gente poderia dizer que "quanto mais velho o pergaminho, mais próximo do texto verdadeiro". Mas esse princípio, embora válido, o que faz com que o códice 338 de Assis seja muito respeitado, não é sempre garantido. Um documento mais recente pode ter copiado mais fielmente um texto antigo que uma cópia intermediária. Por isso, só para se ter idéia, vejamos algumas regras que foram estabelecidas:

  1. Quando um texto, comparado com outro, mostra que foram feitas correções para que o latim ficasse mais certo ou se livrasse de expressões italianas, a gente confia mais no texto sem correções.
  2. Quando um texto foi corrigido ficando mais parecido com uma fórmula quase decorada, por exemplo, pela leitura constante da Regra e do Testamento, é preferível a forma diferente.
  3. A Ordem mudou bastante. Às vezes, os copistas não entendiam mais algumas coisas sobre uma vida fraterna ou costumes antigos e corrigiam de acordo com os costumes de seu tempo. Um bom conhecimento da história pode ajudar a restabelecer o texto corrigido, encontrado em algumas cópias.
  4. Às vezes as correções foram feitas porque a linguagem teológica de Francisco e seus companheiros é anterior à Escolástica. Então é mais antigo o texto menos correto, ou com linguagem certamente mais antiga.
  5. São Francisco usava uma prosa despojada, normalmente sem belezas de estilo. Entre um pergaminho que tem um texto mais bonito e outro com linguagem mais rude, é preciso ficar com o menos bonito.

A edição de Esser

Esser apresentou os Escritos de São Francisco em ordem alfabética. Mas é claro que a ordem alfabética dos títulos em latim torna-se completamente diferente nas outras línguas. Como também não dá para usar a ordem cronológica, porque não se sabe exatamente a data em que foi redigido cada escrito, há diversas tentativas de distribuir os Escritos por grupos, como nós fizemos (exortações, legislativos, cartas...) mas mesmo isso não é fácil.

Na edição de Esser há uma seção de "Opúsculos ditados". Trata-se de escritos cuja redação não é conhecida através de manuscritos que os apresentem como tais. Estão só nas fontes biográficas, como notícia: o autor diz que São Francisco ditou algum tema e coloca o assunto, sem pretender dizer que o texto era exatamente aquele: garante-se que o assunto é autêntico, não o texto com todas as suas palavras. O problema é que, nessa base, poderiam ser colecionados muitos outros ditos e palavras de São Francisco. Preferimos chamálos de "Fragmentos encontrados em outros livros".

Mas é preciso saber que a maior parte dos Escritos foi mesmo ditada. São Francisco sabia mal o latim e chamava frades que soubessem escrever. Mas depois ele revia, corrigia e, por isso, textos como o Testamento ou o Cântico de Frei Sol, certamente ditados, podem ser aceitos como escritos por ele. De maneira ampla, o importante é saber que os Escritos que apresentamos são mesmo de São Francisco, ainda que vários possam ter uma colaboração de alguns de seus companheiros. Em geral, cada palavra foi aceita por ele, que era cuidadoso nessas questões.

Em 1989, Frei Engelbert Grau OFM fez uma segunda edição da obra de Esser (que tinha morrido em 1978). As novidades são um índice bibliográfico, a apresentação do Ouvi pobrezinhas (que só foi encontrado em 1976) e uma nova maneira de apresentar a Primeira Carta aos Fiéis.

Uma nova edição

Em 1995 as "Edizioni Porziuncola", de Assis, apresentaram uma preciosa contribuiçãopara os estudiosos. SãoFONTES FRANCISCANI, isto é as Fontes Franciscanas em latim. Um só volume, com 2.581 páginas em papel bíblia traz todas as Fontes mais importantes, com preciosas introduções atualizadas. Estão incluídos até os Actus Beati Francisci et sociorum eius e também os Escritos, a Legenda e o Processo de Santa Clara. Está prometido um novo volume com as Crônicas e os outros Documentos que ficaram faltando.

Os que podem ler os textos na língua original e na versão crítica não precisam mais estar juntando livros, às vezes raros, nas bibliotecas. Neste caderno, essa nova edição foi imensamente útil

1. Admoestações - Trata-se de uma coleção de 28 textos curtos (só a primeira é um pouco maior) que tem ampla presença nos manuscritos medievais. Uma das Adm foi o primeiro texto de Francisco citado fora da Ordem (1231) por um frade dominicano. Lembra-se que Francisco costumava fazer alocuções a todos os frades nos capítulos gerais. Algumas destas admoestações podem provir desses capítulos, mas não todas. Do nº 1 ao 13 os temas são variados; do 14 ao 28 formam o que se chama de "bemaventuranças franciscanas". Provavelmente são textos que só foram falados por São Francisco e que foram preservados porque alguém tomou nota. É até possível que tenha sido alguém de fora da Ordem (pensa-se em um cisterciense secretário do Card. Hugolino) porque usa expressões como prelado, servo de Deus, etc. que não eram comuns no meio franciscano.

As Admoestações são um bom resumo da proposta espiritual de São Francisco.

2. Testamento - Depois da Regra Bulada, o Testamento é o documento melhor e mais amplamente documentado de São Francisco. Ninguém duvida de sua autenticidade. O próprio título Testamento procede do texto do Santo. Sabe-se que São Francisco o ditou em seus últimos dias, depois de ter discutido vários pontos com os frades. Ele queria que fosse lido sempre depois da Regra, e isso sempre foi feito. Mas, desde o início, houve discussões a respeito do valor obrigatório desse documento. Já Gregório IX declarou, em 1230, que o Testamento não era obrigatório. Mas não há dúvida de que ele expressa de maneira muito candente o pensamento do Santo sobre a sua própria vida e a que Deus lhe havia inspirado para os Frades Menores.

3. "Ouví, Pobrezinhas" - Este documento foi encontrado em 1976, logo depois que saiu o livro de Esser, pelo Frei João Boccali, que seguiu as indicações de duas clarissas estudiosas e o localizou no mosteiro das clarissas de São Fidêncio em Novaglie. Boccali deulhe o nome de "Palavras de Exortação". Dois anos depois, publicou um estudo crítico, ao qual se seguiram outros. Já se tinha conhecimento desse cântico pelo Espelho da Perfeição (90) e mais ainda pela Legenda Perusina (45). São Francisco o compôs para Santa Clara e suas Irmãs "com canto" logo depois de compor o Cântico de Frei Sol.

4. Regra não Bulada - Às vezes também é chamada de Primeira Regra, deixando-se o nome de Segunda Regrapara o que estamos denominando Regra Bulada. Na verdade, não foi a primeira. Alguns chamam de Proto-regra ouRegra Primitiva a que foi aprovada por Inocêncio III em 1210. A Regra não bulada é a versão final que resultou em 1221, depois que os capítulos gerais foram acrescentando modificações à Regra Primitiva, para se adequar à vida de uma fraternidade que não parava de crescer. É o maior dos escritos de São Francisco. Ele é certamente o autor, mas teve ampla colaboração de todos os frades reunidos nos capítulos gerais. Tratase de um documento vivo, ardoroso, cheio de orações e de citações bíblicas. É imprescindível para se conhecer o pensamento de Francisco e de seus primeiros companheiros sobre a Ordem que estava começando.

5. Regra bulada - Damos-lhe esse nome porque foi aprovada pela bula "Solet annuere" de Honório III (1223). Nunca houve dúvidas quanto à autenticidade nem quanto ao texto desta Regra. São numerosíssimos os manuscritos medievais que a trazem, mas nem precisamos deles: temos o pergaminho original da bula, que inclui a Regra, e está guardado em Assis (com muitas fotocópias modernas espalhadas por nossos conventos). Nos arquivos do Vaticano também ficou uma cópia, com pequenas diferenças devidas a falhas dos amanuenses. É a Forma de Vida que vale deste 1223 para todos os Frades Menores e, por isso, é amplamente conhecida por todos os franciscanos, que a sabem de cor.

6. Regra para os Eremitérios - Já consta no códice 338 de Assis e está bem representada em muitos códices. Não tinha título. Esse foi dado de acordo com o conteúdo. Deve ter sido escrita entre os anos de 1217 e 1220. Mais tarde, como a Ordem deixou de ter eremitérios do tipo considerado neste documento (por eremitérios entendiam pequenos conventinhos) os copistas tentaram fazer correções para o que não estavam entendendo. Pode ser considerado um complemento à grande Regra. É um magnífico documento sobre a vida fraterna e a vida de oração.

7. Forma de Vida para Santa Clara - Só temos este documento porque Santa Clara o copiou no capítulo VI de sua Regra. Também fez uma referência a ele no seu Testamento. Foi dado por Francisco logo no começo da fundação das Irmãs Pobres, provavelmente em 1212 ou pouco depois. É muito curto, mas pode ser realmente o miolo da proposta de Francisco: as Irmãs deviam viver o Santo Evangelho integrando-se na vida da Trindade. E Francisco promete cuidar delas como de seus irmãos. É interessante observar a semelhança entre essa forma de vida e a antífona a Nossa Senhora que faz parte do Ofício da Paixão.

8. Última Vontade para Santa ClaraEste é outro escrito de São Francisco que só conhecemos porque Santa Clara o introduziu o capítulo VI de sua Regra. Deve ter sido escrito nos últimos dias de vida do Santo, mais ou menos na época em que enviou sua bênção a Santa Clara. É uma forte exortação à vida em pobreza. Em 2Cel 204, Celano fala desse documento.

9. Fragmentos de outra Regra não bulada - Já em 1904, Boehmer fazia notar que havia diversas citações da Regra de São Francisco que eram certamente anteriores à Regra Bulada mas também não constavam exatamente na Regra não bulada. Ele colocou alguns logo depois de sua apresentação da Regra não bulada. Na realidade, são até mais numerosos. Podemos encontrá-los em três fontes: 1. O códice da catedral de Worchester, a "Explicação da Regra" escrita por Hugo de Digne entre 1245 e 1255 e a "Vida Segunda", de Celano.

10. Carta a um Ministro - É um documento conhecido desde o fim do sec. XIV, porque Bartolomeu de Pisa faz várias citações, sem nunca colocar o texto inteiro. Wadding apresentou mais de uma versão, sem deixar nada claro. Foi uma surpresa quando os estudiosos começaram a encontrar códices que davam a carta completa. Algumas publicações foram feitas antes de 1900, por Eduardo de Alençon e Paulo Sabatier. Não se sabe quem é o ministro que recebeu a carta, mas ela costuma ser datada com bastante segurança antes de 1223 e até mesmo antes de 1221, mas não pode ser muito anterior. É um belíssimo escrito sobre a misericórdia, que nos faz conhecer bem de perto São Francisco.

11. Primeira Carta aos Fiéis - Foi Paulo Sabatier quem publicou pela primeira vez este Escrito, no ano de 1900. Ele o achara no Códice de Volterra. Deulhe o nome de Verba vitae et salutis (Palavras de vida e de salvação) e disse que se tratava de um primeiro esboço do Escrito hoje conhecido como Segunda Carta aos Fiéis (que ainda não tinha sido publicado naquele tempo). Lemmens e Boehmer aceitaram o escrito mas disseram que se tratava de um resumo posterior. Esser conseguiu provar que se tratava realmente de uma primeira versão, mais antiga, da outra e lhe deu esse nome de "Carta aos Fiéis - primeira recensão", corrigindo o título dado por Sabatier. Essa primeira versão, bem de acordo com o que dizem o Anônimo Perusino (41) e a Legenda dos Três Companheiros (60), é escrita no plural, pelos frades, com São Francisco. É um belíssimo e simples documento que fala dos que fazem e dos que não fazem penitência.

Na segunda edição da obra de Esser, Grau aproveitou estudos feitos por Pazzelli e mostrou que, de fato, não se trata de uma Carta mas de um "louvor" a Deus pelos que fazem penitência: os que chamamos de Irmãos e Irmãs da Penitência. E que o título de Sabatier estava correto.

12. Segunda Carta aos Fiéis - Wadding publicou esta carta dividida em duas, baseandose em um manuscrito. Mas hoje temos muitos outros manuscritos, inclusive do sec. XIII, que dão o texto como uma única carta. Sua autenticidade é aceita. Talvez se possa situar a primeira recensão por volta de 1212 e esta por volta de 1222. Bem mais longa, esta nos faz pensar em como a Regra primitivados Frades Menores foi se transformando na Regra não bulada: na medida em que aumentava o número dos Irmãos e Irmãs da Penitência e em que as dificuldades iam aparecendo, a Carta foi crescendo. É fácil perceber como muitos trechos novos foram colocados para esclarecer quanto aos erros dos cátaros, que deviam influenciar muitos irmãos. A divisão em doze capítulos e os subtítulos certamente não são originais.

13. Primeira Carta aos Custódios - Era um escrito completamente desconhecido até 1902, quando foi publicado por Sabatier, que o encontrara no códice de Volterra. W. Goetz quis ver nele uma compilação da Carta aos Clérigos, da II aos Custódios e da Carta aos Governadores dos povos. Mas, ao encontrar a Primeira aos Clérigos no Missal do Subiaco, constatou que a Primeira aos Custódios também era autêntica. Foi reconhecida nas edições de Lemmens e Boehmer (1904). A Segunda Carta aos Custódios faz uma alusão a ela. O assunto é sobre a Eucaristia. Parecem evidentes sua conexão com a "Sane cum olim" de Honório III (1219) e também sua linguagem préescolástica. Custódios, nesse tempo, eram todos os superiores da Ordem dos Frades Menores.

14. Segunda Carta aos Custódios - Foi bastante discutida mas, hoje em dia, sua autenticidade é aceita. Foi publicada pela primeira vez por Wadding em 1623. Ele estava fazendo uma tradução em latim de uma carta que recebera em espanhol, mas que, por sua vez, tinha sido traduzida do latim, porque se conservava outrora em Saragoça um manuscrito que era venerado como autógrafo. Por isso, temos a certeza de que o texto não é o original. Mas o assunto é fácil de aceitar, tanto pelo estilo de São Francisco, como pelo tema e mais ainda porque cita a Carta aos Clérigos, a Carta 1 aos Custódios e a Carta aos governadores dos povos. Também se dirige a todos os superiores da Ordem e também fala da Eucaristia. Podese demonstrar que é uma segunda versão, um tanto modificada, da primeira.

15. Primeira Carta aos Clérigos - Já recordamos que o códice B24 (por Esser chamado RV2) contém a Primeira Carta aos Clérigos copiada em um missal beneditino. É o texto mais antigo que possuímos (entre 1219 e 1238) fora os autógrafos. Esta Carta é um dos escritos de São Francisco estudados mais a fundo. Tem uma base nos relatos de LP18 e EP 56 (São Francisco andava com uma vassoura para limpar as igrejas, falava com os clérigos) e no seu amor à Eucaristia, documentado também no Testamento, na 1 Adm etc. Alguns estudiosos só levam em consideração esta primeira carta, eliminando a segunda, que dizem ter muito poucas diferenças (Isso já muda a maneira de contar os Escritos).

16. Segunda Carta aos Clérigos - Caetano Esser distingue a primeira recensão (a do missal beneditino), da segunda, que está em quase todos os outros manuscritos. Acha que as diferenças são poucas mas importantes. Levanta a hipótese de que a primeira date do período entre o Concílio de Latrão e a viagem de Francisco ao Egito (1215-1219), e que a segunda seja posterior a 1220, quando o Papa Honório III publicou sua carta "Sane cum olim"; Francisco teria gostado e reformado um pouco sua primeira carta incluindo algumas expressões do papa.

17. Carta a toda a Ordem - Na edição de Wadding (1623) esta carta está dividida em três partes e tem três títulos. Por isso, mesmo nas edições de 1904 ela ainda aparece com o nome de Carta ao Capítulo Geral. Ou então se dizia que era "a todos os frades". Mas este é o documento mais documentado de todos os Escritos de São Francisco, depois daRegra bulada e do Testamento. Esser livrou-a de todas as dúvidas e lhe deu o nome de Carta a toda a Ordem, autorizado por alguns manuscritos. É o texto mais bem escrito de São Francisco, com um latim muito bom, o que mostra que os secretários devem ter ajudado bastante. Um precioso documento sobre a Eucaristia.

18. Carta aos governadores dos povos - Não foi encontrado nenhum códice medieval para esta carta. A única fonte é uma cópia que, segundo a tradição, foi levada para Saragoça por Frei João Parenti, quando foi ministro provincial da Espanha no tempo de São Francisco. Mas ela é aceita como autêntica. Tem que ser entendida no conjunto de outras circulares que ele escreveu quando voltou do Egito, entre 1220 e 1224. Ele estava muito doente e quase cego. Sabendo que não podia mais fazer pregações por toda parte, decidiu começar um apostolado novo, por escrito. Impressionado com os muezins muçulmanos que convidavam o povo cinco vezes por dia para a "shalat", Francisco solicita aos governantes que se façam patrocinadores dos louvores de Deus por um anúncio vespertino. Podia até estar pensando em um sinal ecumênico que unisse cristãos e muçulmanos.

19. Carta a Frei Leão - Está conservada na catedral de Espoleto, em um pergaminho autógrafo. Não há manuscritos que a tenham copiado. A primeira cópia conhecida é de 1604, quando levaram o pergaminho para comparar com o doBilhete a Frei Leão, que contém a Bênção e os Louvores a Deus Altíssimo. Wadding copiou- a em 1623. Não há dúvida quanto à autenticidade: é bem o estilo de Francisco, numa linguagem bastante incorreta. Mas fala ao coração, "como uma mãe". Parece que, durante séculos, esse texto foi usado como uma relíquia, para dar bênçãos. Em 1860, quando foi supresso o convento dos conventuais em Espoleto, onde era guardada, passou para a catedral. Um pároco, em 1895 queria vendê-la aos americanos. Falloci Pulignani levou a questão ao Papa Leão XIII, que deu uma pensão anual de 200 liras ao pároco para ficar com a relíquia no Vaticano. Depois, deu-a de novo à catedral de Espoleto.

20. Carta a Santo Antônio - A autenticidade desta carta só começou a ser discutida depois que Sabatier insistiu em que São Francisco se opunha aos estudos. Em geral o texto aparece em pergaminhos independentes ou nas vidas de Santo Antônio, não em coleções. Depois das edições de 1904 foram achados muito pergaminhos. É interessante ler2Cel 163, onde se fala dessa carta, e também a Adm. 7, que fala dos estudos. A Carta cita a RB, por isso tem que ser posterior a 1223. Mas não pode ser posterior a 1224/5, quando Santo Antônio foi para a França. Ele deve ter pedido antes o escrito de São Francisco.

21. Oração diante do crucifixo - Em geral aparece solta nos manuscritos, sendo mais comum nos ligados à coleção de Avinhão. Quase sempre se diz que Francisco rezou essa oração quando o Crucificado pediu que reformasse sua casa. É conhecido o texto italiano como original. Alguns quiseram por em dúvida sua autenticidade, perguntando quando São Francisco a teria composto e escrito. Hoje se pensa, geralmente, que ele já estava fazendo essa oração no tempo anterior a São Damião: e foi a resposta espontânea que lhe veio aos lábios ou ouvir Jesus. É interessante que Frei Marcos de Lisboa já apresenta uma tradução em português em 1556 e até diz que o Crucifixo falou depois que Francisco rezou a oração.

22. Exortação ao Louvor de Deus - Esta oração de São Francisco não estava nem nos "Opúsculos" de Wadding (1623) nem entrou nas edições críticas de Lemmens e Boehmer (1904). Mas foi aceita por Esser (1976). O próprio Wadding colocou-a nos seus Annales Minorum (1625), dizendo que copiara uma informação de Frei Mariano de Florença. Também foi encontrado um manuscrito do sec. XV que dá um testemunho paralelo e muito interessante: A exortação foi escrita pelo próprio São Francisco em uma tábua que servia de piso do altar em um seu eremitério. Ele mandou pintar algumas criaturas na tábua e depois escreveu o texto. Mais tarde tiraram a tábua e a expuseram como um quadro. Frei Mariano viu e copiou. A outra cópia (códice N7) também foi feita assim.

23. Louvores para todas as Horas - Não há dúvidas quanto à autenticidade desses louvores que São Francisco rezava antes das horas canônicas: estão em muitos manuscritos. A oração final é certamente original dele. Os outros louvores, como são feitos com textos litúrgicos muito conhecidos, em geral nem foram copiados por inteiro nos manuscritos. Todo mundo os sabia de cor e os copistas muitas vezes se limitaram a dar as palavras iniciais. Por isso é difícil reconstituir com segurança o texto original.

24. Ofício da Paixão - É uma preciosa coleção de quinze Salmos e uma antífona de Nossa Senhora que São Francisco fez para celebrar todos os dias, paralelamente ao Ofício Divino, o mistério de Jesus Cristo. Treze dos Salmos são elaboração dele, usando principalmente trechos de Salmos bíblicos. Esse "Ofício" não está contido em muitos pergaminhos medievais, mas não há dúvidas quanto a sua autenticidade. Os pergaminhos não davam um título. Wadding inventou esse de "Ofício da Paixão do Senhor", que foi aceito por Lemmens e Boehmer. Na realidade, São Francisco celebra também a Páscoa e todo o mistério de Jesus. Alguns autores achavam que era um texto sem importância, porque feito com retalhos de Salmos conhecidos. Mas é justamente aí que está sua importância: qual a seleção feita pelo Santo. A Legenda de Santa Clara (30) diz que ela "aprendeu o Ofício da Cruz feito por São Francisco e o recitava com igual afeto". É um dos melhores escritos para demonstrar a identificação de Francisco com Jesus Cristo.

25. Exposição sobre o Pai-nosso - Houve muitas discussões a respeito deste Escrito. Dizia-se que, naquele tempo, eram muito comuns essas paráfrases sobre o Pai-nosso, aliás conhecidas desde Orígenes e outros santos Padres. Na realidade, ainda não foi descoberto nenhum texto de outros autores realmente parecido com este de Francisco. Não é uma exposição sobre o Pai-nosso, é uma oração ampliada, em que ele vai acrescentando tudo que tem no coração. Também não faz parte dos Louvores para todas as horas, como alguns afirmavam e Esser esclareceu definitivamente.

26. Bênção a Frei Leão - Este texto e o seguinte estão nos dois lados de um pergaminho de uns 10 X 14 cms. com a letra original do Santo. O pergaminho está guardado em um relicário, na basílica de Assis, pelo menos desde 1338. Depois do Cântico de Frei Sol, foram os escritos que mais mereceram estudos dos especialistas. É interessante ler2Cel 49 (e o paralelo LM 9,9) para conhecer sua história. A bênção, muito conhecida, é uma adaptação de Nm 6,24-26.

27. Louvores a Deus Altíssimo - O texto autógrafo (no bilhete a Frei Leão) está um pouco estragado pelo uso, mas o que nele não pode ser lido completa-se pela ampla tradição dos manuscritos medievais. É uma das expressões mais bonitas e arrebatadas das orações de louvor de São Francisco e de seu amor ao Deus Trindade.

28. Saudação à Bem-aventurada Virgem Maria - As Fontes, desde 2Cel 198 e EP 55 falam da grande devoção de São Francisco por Nossa Senhora. Esta "saudação", que talvez fosse melhor chamar de "lauda" não consta nos pergaminhos do sec. XIII, embora seja abundantemente testificada a partir do sec. XIV. Mas nunca ninguém colocou em dúvida sua autenticidade. A idéia que Nossa Senhora é uma "Virgem feita igreja" baseia-se na teologia patrística, que alimentava a liturgia conhecida e vivida por São Francisco. Muitos manuscritos escreveram "virgem perpétua", mas o pensamento da lauda está construído em cima do "Virgem feita igreja".

29. Saudação às Virtudes - A primeira referência a este escrito está em 2Cel 189, onde recebe o nome de "Louvores sobre as virtudes". Mas a sua presença é abundante nos códices medievais e não há nenhuma dúvida da autenticidade. É típico de Francisco chamar as virtudes de irmãs ou senhoras e mais típico ainda o seu uso das palavras corpo, carne, espírito e mundo. Vários manuscritos ligam este escrito à Saudação à Virgem Maria, falando em "virtudes com as quais foi ornada a Santa Virgem e deve ser ornada a alma".

30. Cântico de Frei Sol - Este cântico, amplamente conhecido hoje em dia, é certamente uma das obras mais estudadas de São Francisco, e não há nenhuma dúvida sobre sua autenticidade. Já há referências preciosas em 1Cel80, em 2Cel 165, em Legenda Maior 8,6. No Espelho da Perfeição é interessante ler desde o n. 115 até o n.120, que dá o texto. Mas o melhor texto é o do Cod. 338 de Assis. Já no sec. XIV muitos pergaminhos davam o texto completo, independente de outros escritos.

31. Bênção a Frei Bernardo - Uma bênção dada por São Francisco, no leito de morte, ao seu primeiro frade, Bernardo de Quintavale. O episódio é muito conhecido, especialmente por Legenda Perusina 107-8 e EP 107, mas também é bom ver 2Cel 48.

32. Bênção a Santa Clara - O episódio é conhecido em quase todas as fontes que falam da bênção a Frei Bernardo. Vem logo em seguida. O texto melhor está em EP 108. Não se deve confundir esta bênção com as "palavras de exortação" ou "Ouvi, pobrezinhas", nem com a "Última vontade".

33. Testamento de Sena - Encontramos o episódio e o assunto do Testamento em EP 87 e em LP 17. Várias outras fontes do sec. XIV falam disso. Os estudiosos o aceitam como autêntico porque ninguém apresentaria um outro Testamento de São Francisco se a base histórica não fosse segura, uma vez que o grande Testamento já era tão discutido. O texto mais seguro é Legenda Perusina 17.

34. Ditado da Perfeita Alegria - conhecido no cap. 8 dos Fioretti, baseado no cap. 7 dos Actus. Os dois são certamente enfeitados. Wadding publicou um texto mais antigo. Depois, foi encontrada no pergaminho conhecido comocod FN, uma versão mais rude, que é aceita como mais antiga. Sabatier defendeu-a. É interessante ler 2Cel 125 e aAdm 5 para confrontar.

35. Carta a Frei Jacoba - Está em 3Cel 37. Sua autenticidade sempre foi aceita e temos o relato em Legenda Perusina 101 e Espelho da Perfeição 112. Os Actus chegam a dar todo o texto, mas é evidententemente uma elaboração posterior. Ficamos com Celano.

36. Carta aos Bolonhenses - Só está na Crônica de Tomás de Ecleston, que cita um relato de Frei Martinho de Barton: São Francisco escreveu uma carta, em mau latim, aos bolonhenses predizendo um terremoto. O assunto é tido como autêntico.

37. Carta aos Frades Franceses - Também só é testemunhada na Crônica de Tomás de Ecleston. Francisco escreve aos ministros e aos frades da França, exortando-os a louvar a Santíssima Trindade.

38. Carta a Santa Clara sobre o jejum - A gente sabe que essa carta existiu porque Santa Clara fala nela em sua3CtIn. Refere-se a um escrito e a conselhos e mandamentos do Santo. Parece que estava tudo em um único pergaminho. Não temos o texto.

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