Franciscanismo

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sexta-feira, 13 de março de 2009

Excomunhão

Eu não sou a favor do aborto, mas no caso da menina, eu me pergunto: o que teria feito Jesus. Credito que não teria escutado nem o juiz nem o arcebispo. Ele teria ido ver a menina para cuidar dela. E escutar naquele momento aquilo que a Vida Lhe inspira. É claro que se a vida da mãe e a vida das crianças estão em perigo é preciso escolher que um dos dois sobreviva. Depois, é preciso escutar o sofrimento desta menina. Mas nunca julgar, excomungando, apenas como Igreja, escutar a dor ser solidário com a dor, tentar amenizar a dor e o sofrimento. Não sei se devemos fazer isso ou aquilo diante do estupro e do aborto, mas sei que eu devo ser solidário com quem sofre, sempre que alguém sofre agir com compaixão, misericórdia e solidariedade, é isto que Jesus pede de mim, sempre, como ministro da bencao. Trata-se de escutar a pessoa que está sofrendo e de escutar aquilo que a vida deseja nela porque a vontade de Deus é a vontade da Vida que quer viver. E como não acrescentar mais sofrimento? E aqui, o que pode nos parecer dramático é que, com a excomunhao, é acrescentado culpa ao sofrimento, acrescentado mais mal ao mal. No Evangelho, nós nunca vimos Jesus excomungando alguém. 
E, primeiro, será que é possível excomungar alguém? O diabo não pode nos separar de Deus se permanecemos fiéis a Presença de Deus. Se o diabo não pode nos separar de Deus, um arcebispo também não.
Mas eu confesso que há alguma coisa que eu não compreendo nisto tudo: é este encadeamento de excomunhões. Porque se excomunga quem já se esta sofrendo? Se isto não e humano, e menos ainda cristão. 
Mas vocês podem sentir que não é essa a questão. Nenhuma igreja, nenhum ser humano têm o poder de excomungá-los. Nós não podemos separar um ser da Fonte do Ser. Não podemos separar a consciência da Fonte da Consciência, mas podemos envenenar a sua vida. Nós podemos perturbar a sua vida. E é verdade que isso é grave. 
E, normalmente, a função da Igreja, Padres e Bispos, não é a de envenenar a vida, mas a de curar o sofrimento, de aliviar a dor, de aliviar a dor dessa menina, e de aliviar a dor daqueles que a cercam. E não culpabilizar aqueles que estão tentando ajudá-la, mas, pelo contrário, ajudá-los no seu discernimento para saberem o que é melhor para essa menina; o que é melhor para que a vida a leve para a morte, para a pulsão de morte, pulsão de destruição. Essa é a função da igreja. Mas não é a sua função condenar, excomungar. Senão ela se torna uma instituição como qualquer outra que está a serviço do poder. E o poder sobre as almas é algo muito perigoso. É mais perigoso do que o poder sobre os corpos. 
É por isso que sempre é bom voltarmos aos Evangelhos ou, simplesmente, voltar ao nosso coração. E não nos deixarmos impressionar por leis externas, mesmo as leis religiosas. A lei a qual obedecemos é a lei da Vida. E o espírito que está em nós é o Espírito da Vida. É isso que dirá São Paulo. Não dependemos mais de leis externas. Trata-se de escutar a vida em nós, de escutarmos a luz em nós, de escutar o amor em nós, de escutar a Presença do Eu Sou que É porque ali está o discernimento. Mas, algumas vezes, é preciso coragem para encarar estas instituições que, talvez, estejam se esquecendo essa dimensão do Ser. Muitas vezes, estas instituições são vítimas de suas próprias ideologias. É interessante escutar os argumentos do Arcebispo de que não devemos destruir a vida. Mas vocês podem sentir que a sua teoria está cortado da realidade. Seus grandes princípios, que não são ruins, esquecem daquele caso em particular. E pra Deus existem apenas casos particulares. Jesus teria morido apenas para salvar a vida daquela menina... 
E não podemos legislar de uma maneira geral porque o amor é sempre o amor
por um caso em particular. O que é verdadeiro para um pode não ser verdadeiro para o outro. E então, que a nossa prática de meditação nos torne atentos a essa via interna, a essa lei interna, que não julga a priori, nem com princípios políticos, nem com princípios médicos, nem com princípios religiosos, mas que está em contato com a realidade; que escuta o que a Vida em outra pessoa e o que a Vida em nós pede. E ama apenas, e tenta amar na mesma intensidade na qual que Jesus amou e ama.
Talvez, essa seja a questão para colocarmos um ato justo, uma condição que deixe o nosso coração em paz mesmo que, a nossa volta, nós não compreendamos. É importante o critério dessa paz interna, esse sinal de que existe uma unidade no interior de nós mesmos. 
Penso nas palavras de São Serafim de Sarov. Ele diz: Encontre a paz no interior de você mesmo e uma multidão será salva ao seu lado.
Ache a paz no interior de você mesmo e você descobrirá o gesto justo que não vai ser uma ideologia, ou os grandes princípios, mas o respeito pela Vida na sua fragilidade e da sua vulnerabilidade.
Acho que disse muito sobre todas essas questões, mas o que eu acho mais importante é que cada um descubra a resposta que vêm ao seu interior. Ninguém tem o direito de pensar no seu lugar. O papel de um ensinamento, o papel de uma comunidade ou de uma igreja não é dizer o que devemos fazer, aquilo que é bom e o que é ruim, mas de nos dar elementos para esclarecer o nosso discernimento, para que nós nos tornemos inteligentes, uma inteligência esclarecida e iluminada pela compaixão. 
E assim não haverá mais excomungados, nem o outro, diferente de mim será mais inimigo, pois ele já terá sido amado, acolhido. e o demonio, que a Igreja diz combater tera sido vencido, dentro dela mesma. Dentro de nos mesmos.
E a Biblia, o livro da Vida, que revela um Deus de amor, nao sera mais usada para falar que Deus quer excomungados...
Pois se eu nao sou capaz de perceber o outro diferende de mim, na sua diferenca, tambem como filho de Deus, eu preciso repensar meus valores reliogos e de fe crista e minha atuacao dentro do ministerio acerdotal.
 
Pe Fr Gelson, oasf

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